Contos e Crônicas: A Menina Silenciosa do Coração Barulhento...

Olá, eu sou a menina silenciosa do coração barulhento. Seja muito bem vindo e bem vinda ao meu mundo. Silencioso, mas barulhento dentro do meu coração. A minha pressa de viver sempre foi muito grande, prova disso foi que nasci de sete meses. Sei lá, queria logo vir ao mundo, conhecer as pessoas e principalmente viver. Achava que o mundo era fácil e as coisas seriam fáceis. Mas conforme fui crescendo fui vendo que não é bem assim e o mundo não é como eu sonhava...

Fui criada por dois anjos que Deus me deu. Meus avós. Na verdade, meu "avô" era padrasto da minha mãe, mas dizem por aí que pai é quem cria. E se minha mãe o considerava um pai, lhe considerava meu avô e meu pai. Ele e minha avó sempre deram duro pra me criar, faziam das tripas coração pra me darem tudo e pra me fazerem feliz. Nunca imaginei minha vida sem ter esses dois seres humanos perto de mim. Tão carinhosos, tão amorosos, tão doces e tão maravilhosos. Até os nove anos, vivia como num conto de fadas, nos quais os dois eram meu rei e minha rainha. E como nos contos de fada, no final todos viviam felizes para sempre. Mas na vida real, tudo tem seu fim. E existe uma coisa horrível, na qual eu odeio, doenças. E principalmente uma, um tal aí chamado câncer. Na verdade, era muito nova e nem sabia o que era isso, mas ele atingiu minha avó, então a partir daquele momento passei a odiá-lo... Infelizmente, perdi minha avó pra ele. Ela se foi.

Depois que perdi minha avó me senti frágil demais, como que eu viveria sem ela? Mas aí veio outro golpe duro. Meu avô decidiu ir embora e morar com o filho dele em uma outra cidade. Me senti sem chão, sozinha, abandonada. Sem minha avó, sem meu avô e agora? Ia viver como? Pelo menos pra algo serviu, fui morar com a minha mãe que até então era tão desconhecida. Não sabia como era viver com ela... Antes de ir embora, meu avô me disse palavras que não esquecerei: "Tudo que fizer daqui pra frente, faça pensando em mim e por mim.". Jamais esqueci isso. Por isso ia pra escola, conhecia novas pessoas. Os dias foram passando e perdemos o contato. Estava em depressão e o que mais desejava era ficar em casa chorando e deitada. Para que os dias passassem mais rápido... Até que um dia, minha mãe foi me buscar aos prantos na escola, pois é, meu avô também se foi... Ver ele num caixão doía o fundo da minha alma. Era a outra metade de mim indo embora também.

Decidi começar a escrever um diário pra ver se minha dor diminuía e com o passar do tempo, dos meses, percebi que não adiantava nada. Foi aí que comecei a ter pensamentos suicidas e a me cortar. Passei tempos assim, achando que adiantaria e cada vez mais aumentava minha vontade de me matar e ir ao encontro deles. Até que minha mãe viu meu braço e desabei a chorar na frente dela. Minha mãe me abraçou e eu pude contar a ela tudo que doía tanto aqui dentro de mim. Ela foi um outro anjo dado por Deus a mim. Ela me ouviu, me entendeu e estendeu a mão pra me ajudar. Enxerguei que não vale a pena tentar se matar e se auto mutilar. O que eles querem é me ver feliz. Hoje eu sou popular no meu colégio, sou feliz, faço minhas coisas, não me corto mais e nem penso em me matar. Entendo que meus avós estão olhando por mim e estão felizes em me ver bem. E apesar da ausência deles, a vida tem que continuar e eu preciso continuar. Mas o que nunca vai mudar e nunca vai passar, é a saudade que sinto deles. Saudade é uma dor que não se cura..."

Bom, a história de hoje é verídica e quem dividiu sua história comigo foi uma mocinha muito especial e muito guerreira. Espero que vocês se inspirem e saibam que apesar de perdemos quem amamos, a vida continua... Muito obrigada, beijos ♥